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0 Re-viva o Imperador | Opinião

Mantido em perfeito estado de conservação pelas águas glaciais do mar do Norte, repescado por uma traineira e depois descongelado, Napoleão Bonaparte regressa à vida no momento dos atentados jihadistas de Paris, mesmo a tempo de salvar o mundo… Desde François Hollande até às bailarinas de cancã do Moulin Rouge, ninguém ficará indiferente!

A Europa do século xxi vive assolada pelo medo, que não conhece fronteiras e que se respira em Paris como um pouco por todo o lado. Será mais difícil ao Imperador habituar-se a este novo paradigma do que à recém-descoberta Coca-Cola Light, delicioso champanhe negro, que não só não lhe tolda o raciocínio como faz ainda maravilhas à sua célebre úlcera; mas será em direção a Raqqa, a capital do autoproclamado Estado Islâmico, que o seu Novo Grande Exército irá marchar.

Romain Puértolas reage aos tempos sombrios, que são os nossos, com uma generosa dose de humor e esperança, num livro que é uma aventura mas também um desafio: não ceder ao medo e não esquecer que a palavra e a gargalhada são as armas mais eficazes contra toda e qualquer violência.

Autor: Romain Puértolas  
Editor: Porto Editora (2017) 
Género: Romance
Páginas: 312
 



Foto de Tempo de Ler.
opinião
★★★★

O nome Romain Puértolas na capa é o suficiente para me levar a comprar um livro.
Tendo gostado muito dos trabalhos anteriores do escritor ("A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea" e "A menina que engoliu uma nuvem do tamanho da torre Eiffel") foi com grande entusiasmo que peguei neste terceiro livro. Adoro o sentido de humor do autor e o modo como o funde com o seu sentido crítico.

"Re-viva o Imperador!" tira conclusões legítimas das situações e cenários mais estapafúrdios.
"a morte não o quis e a vida parecia ter outros planos para ele" (pág. 89)… portanto Napoleão Bonaparte está de regresso! Confrontado com a situação internacional e com os atentados em França, decide tomar para si a tarefa de acabar com o terrorismo de uma vez por todas (…nem mais!) - afinal, ele nunca abandonou o país e não vai começar agora.
Mantendo a narrativa divertida e cómica do princípio ao fim, Puértolas traz-nos um tema que não poderia ser mais atual. Facilmente damos por nós a simpatizar com este Napoleão, inocente em relação a tantas realidades que hoje consideramos básicas, mas que não desiste perante as contrariedades, revelando grande capacidade de adaptação e inteligência.

Mantive-me curiosa até ao fim, mais que não fosse para saber de que modo iria o escritor terminar uma história tão excêntrica (…no mínimo).
"Re-viva o Imperador!" lembrou-me um bocadinho o "Ele Está de Volta de Timur Vermes, do qual também gostei imenso.
Napoleão, que sabe que vencer não basta e que é preciso convencer, insiste em manter o seu plano secreto até ao fim. O Imperador está resolvido a terminar a questão do terrorismo e a fazê-lo de forma pacífica: "nunca tivera prazer em tirar uma vida. Eis a diferença entre um homem que mata para levar a cabo uma guerra e um homem que leva a cabo uma guerra para matar. Eis a diferença entre um homem e um monstro." (pág. 48)

Apesar da sua aparência exterior pouco sensata, a mensagem de Puértolas é válida, inteligente e bem séria.
Por meio de algumas frases fortes e certeiras, o escritor fala-nos dos atentados jihadistas de Paris e do perfil destas "pessoas", separando de forma muito competente a religião e o terrorismo: "Essas pessoas não têm nada que ver com o islão (…). Essas pessoas são doentes, primitivas. O homem primitivo dá marradas, enquanto o homem civilizado discute. O homem primitivo bate e abate, enquanto o homem civilizado debate." (pág. 208)

No seu sentido literal, a história pode até nem fazer muito sentido… Mas a verdade é que a guerra também não.




outros livros de Romain Puértolas

Frases Preferidas:
"tudo o que vê não passa de uma bela fachada cor-de-rosa. Lá por trás, o homem continua a ser um predador para o homem. Continua a haver injustiças, racismo, intolerância. Os povos continuam a travar guerras por causa da cor da pele ou da religião" - p. 38

"Não apreciam o humor. Não apreciam a liberdade, seja sob que forma for. E como não são suficientemente inteligentes nem cultas para lutar com argumentos, lutam com armas e assassinam civis. Destroem os jornais com bombas." - p. 41

"Atualmente, os cidadãos exibiam o seu descontentamento organizando aquilo a que chamavam manifestações, um género de revolução pacífica que só durava umas horas e que, na prática, nunca acarretava qualquer mudança." - p. 43

"O córsico alto desapareceu na casa de banho pública, deixando Napoleão em plena contemplação dos logotipos das portas. Uma figura de calças para os homens, uma figura de vestido para as senhoras. O Imperador sorriu. As francesas da atualidade podiam usar calças, mas, pelo menos quando era preciso identificá-las na porta das latrinas, votlavam a pôr o vestido e o espartilho." - p. 44

" As batalhas contra as mulheres são as únicas que se ganham fugindo." - 167




«Romain Puértolas mantém-se na rota do humor. Deixa-se enredar em peripécias loucas e piruetas fantasistas antes de cair, mas sempre com os pés bem assentes no chão e um riso contagiante. Viva Puértolas!» La Croix 

 «Romain Puértolas decidiu tomar o seu leitor de surpresa e arrancar a todo o gás, projetando o pobre Napoleão numa civilização em pleno declínio. E tudo para a nossa agradável satisfação.» Livres Hebdo 

 «Romain Puértolas confirma o poder de uma imaginação desenfreada e, como os verdadeiramente audazes, não depõe nunca as suas armas.» Le Figaro Littéraire 

«Re-Viva o Imperador! confirma a capacidade de Romain Puértolas tecer, entre si, um conjunto de peripécias delirantes e infantis. O resultado é, sobretudo, divertido. Muito divertido. Portanto, longa vida ao Imperador.» L’Express




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