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0 O Arquiteto de Paris | Opinião


1942, Paris está ocupada pelas tropas alemãs.

Lucien Bernard é um talentoso arquiteto, sem trabalho devido à guerra. Acaba de receber uma proposta que lhe pode proporcionar uma avultada quantia em dinheiro ou talvez levá-lo à morte. Tudo o que tem a fazer é projetar um esconderijo secreto para um judeu abastado. Um espaço tão invisível que nem o mais astuto oficial alemão seja capaz de descobrir.

Lucien necessita urgentemente de dinheiro, e tentar enganar os Nazis que ocupam a sua cidade é um desafio a que ele se sente incapaz de resistir. Mas apercebe-se do perigo que isso representa. Valerá a pena arriscar a vida em troca de dinheiro para salvar alguém que ele afinal nem conhece?

Uma narrativa cheia de ironia, intriga e emoção.


Autor: Charles Belfoure  
Editor: Editorial Presença (Outubro, 2015) 
Género: Romance > Ficção Histórica > Segunda Guerra Mundial
Páginas: 352
Original: The Paris Architect (2013)  


«Belfoure’s characters are well-rounded and intricate. Heart, reluctant heroism, and art blend together in this spine-chilling page-turner.» - Publishers Weekly





opinião
My rating: 3 of 5 stars

Desesperado por exercer a profissão pela qual é apaixonado, o arquiteto Lucien aceita trabalhar para os nazis durante a Segunda Guerra Mundial, projetando fábricas que darão vantagem aos alemães contra os aliados. Ao mesmo tempo, para ganhar algum dinheiro extra e porque tal representa um estimulante desafio contra o inimigo, Lucien concorda em construir esconderijos para os judeus. Os dois empreendimentos são obviamente incompatíveis e as opiniões e sensibilidades de Lucien começam a mudar; com o que presencia, um dos lados começa a ser humanizado ao passo que o outro é demonizado para lá de qualquer redenção possível.

Aos fantásticos pormenores sobre o quotidiano numa Paris ocupada pelos alemães e detalhes relacionados com arquitetura, "O Arquiteto de Paris" adiciona ainda um enredo muito intrigante que me manteve empenhada no livro desde a primeira à última página.

Através de episódios aterradores, Charles Belfoure descreve as atividades da Gestapo em Paris, não poupando na delineação da falta de humanidade dos seus «métodos», que tinham por combustível um ódio irrefletido por todos os judeus. O autor não deixa de lado as sabotagens da Resistência, questionando a sua proficiência… e até a alta-costura parisiense, também ela lesada pelo racionamento de materiais e tecidos, é abordada de forma muito interessante neste livro.

A presença dos nazis em Paris traduziu-se em várias dificuldades para os franceses. Além das quebras no fornecimento de eletricidade e do racionamento de alimentos, os cidadãos viviam num estado constante de medo e este terror acabou por fazer com que muitos franceses desenvolvessem antipatia pelos judeus, incluindo os de nacionalidade francesa.

Ao longo do livro, Belfoure cria várias situações que nos deixam a pensar no que faríamos se estivéssemos «naquela» posição. Não deixam de ser tristes e revoltantes os episódios em que os franceses denunciam os judeus, mas o autor mostra-nos que, nestas circunstâncias, nada é tão linear e simples. Quando a existência de um judeu num edifício de vários apartamentos poderia resultar na morte de todos os seus ocupantes, não é totalmente descabido que pais tentassem salvar a vida dos seus filhos, denunciando os judeus.

Sendo arquiteto, julgo que o autor fez um excelente trabalho como romancista. Além da magnífica história que narrou, Belfoure criou um rol de personagens muito interessantes, umas que admirei pela coragem, outras que odiei pela perversa desumanidade demonstrada. O autor centra o seu livro em Lucien, personagem bem construída que evolui de simples insensibilidade para genuína preocupação com as pessoas que salvou, acabando por se envolver emocionalmente.

Infelizmente, e apesar de tudo isto, não consegui simpatizar realmente com Lucien. Penso que boa parte disso se deve às expressões usadas nos diálogos, através dos quais Lucien se me afigura como um indivíduo frio e distante, apesar de muitas vezes os seus pensamentos mostrarem o oposto.





Charles Belfoure é arquiteto de profissão, tendo feito os seus estudos no Pratt Institute e na Columbia University. Lecionou em Pratt e no Goucher College em Baltimore. O seu campo de especialidade é a preservação do património histórico. Publicou vários livros sobre a história da arquitetura, um dos quais foi galardoado pela Graham Foundation pelo contributo prestado à pesquisa na área da Arquitetura. Tem colaborado com os jornais The New York Times e The Baltimore Sun. A obra O Arquiteto de Paris, o seu livro de estreia, foi nomeado para o International Dublin Literary Award em 2015, tendo sido bestseller do New York Times. Vive no estado de Maryland.



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