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Recém-chegada de um internamento breve num hospital psiquiátrico, Camille Preaker tem um trabalho difícil entre mãos. O jornal onde trabalha envia-a para a cidade onde foi criada com o intuito de fazer a cobertura de um caso de homicídio de duas raparigas.

Há anos que Camille mal fala com a mãe, um mulher neurótica e hipocondríaca, e quase nem conhece a meia-irmã, uma bela rapariga de treze anos que exerce um estranho fascínio sobre a cidade. Agora, instalada no seu antigo quarto na mansão vitoriana da família, Camille dá por si a identificar-se com as vítimas.

As suas pistas não a conduzem a lado algum e Camille vê-se obrigada a desvendar o quebra-cabeças psicológico do seu passado para chegar ao cerne da história. Acossada pelos seus próprios fantasmas, terá de confrontar o que lhe aconteceu anos antes se quiser sobreviver a este regresso a casa.


Autor: Gillian Flynn    
Editor: Bertrand Editora (Julho, 2015)* 
Género: Thriller
Páginas: 320
Original: Sharp Objects (2006)  
*Reedição



opinião

Gillian Flynn tem vindo a criar thrillers fantásticos desde Objetos Cortantes; todos eles aprimorados por uma escrita direta e mordaz que espelha na perfeição as personagens que se compromete a construir, colocando-lhes na narração palavras que nos permitem delinear instintivamente os seus temperamentos .

Neste livro somos apresentados a Camille Preaker, jornalista do Daily Post.
Quando desaparece uma rapariga na terra natal de Camille, o seu editor Curry vê a oportunidade de serem os primeiros a reportar o acontecimento, não perdendo tempo em enviar Camille para a pequena cidade de Wind Gap. Rapidamente este caso é associado a um outro em que uma jovem apareceu morta, vítima de estrangulamento, e à qual foram removidos todos os dentes.

Acompanhamos de perto Camille no regresso «a casa», mais e mais intrigados a cada pormenor revelado. Longe de se sentir bem-vinda, Camille é obrigada a lidar com a mãe, personagem complicada que vive de aparências e que passa a vida a lançar-lhe acusações injustificadas.

Enquanto a investigação criminal se desenrola, vamos também observando o desfilar das recordações de Camille em relação a um passado que era jovem demais para compreender mas que a marcou para a vida toda, especialmente a doença e consequente morte da irmã quando Camille tinha apenas 13 anos. Igualmente complicada é a convivência atual com a meia-irmã que praticamente desconhece, uma adolescente cruel que se faz rodear de outras jovens ansiosas por agradar à miúda mais popular da escola, todas elas demasiado curiosas para se manterem longe de sarilhos.

Em Wind Gap, onde todos parecem conhecer os segredos alheios e não se coíbem de os usar para obterem o que querem, as opiniões em relação à identidade do criminoso variam, mas muitos apontam o dedo ao irmão de uma das jovens desaparecidas. Por entre várias personagens mesquinhas e arrogantes, procuramos ansiosamente uma que saiba mais do que aquilo que está disposta dizer…

Não me pareceu que o objetivo de Flynn fosse manter o mistério central até ao final do livro já que adivinhei a identidade do assassino na página 64 e, por norma, sou péssima neste jogo… creio que o interesse da leitura está no estudo das intenções e motivos por detrás de mentes claramente patológicas... e pelo caminho, a autora leva-nos a apreciar Camille, a conviver com os seus «defeitos» desejando que abandone os seus comportamentos autodestrutivos e esperando que não esteja demasiado «estragada», a ponto de não conseguir recuperar.

Este é um livro que mexe definitivamente com os nervos do leitor, dando-lhe ganas de interceder e aplicar o seu próprio sentido de justiça. Gostei especialmente que, correndo o risco de frustrar os leitores que gostam de finais felizes, Flynn se tenha mantido fiel à personagem em vez de embarcar num desfecho hipócrita que só roubaria credibilidade aos problemas de Camille. Como se tornou hábito, Flynn não permite que a vida das suas personagens se detenha no último ponto final, oferecendo-nos a ilusão de que continuam com as suas existências, a enfrentar os seus demónios...



«Às vezes, as minhas cicatrizes têm vontade própria.» - p. 79
«Os problemas começam sempre muito antes de os vermos realmente.» - p. 80




✏ Gillian Flynn é autora de Dark Places, best-seller do New York Times que foi eleito melhor livro de 2009 pela Publishers Weekly, foi um dos favoritos dos críticos da New Yorker, a primeira escolha do Chicago Tribune na área da ficção e o livro de escolha para o verão da Weekend Today. É também autora de Sharp Objects, vencedor do Dagger Award e nomeado para o Edgar Award de romance de estreia, escolha da BookSense e da seleção de Descobertas da cadeia de livrarias Barnes & Noble. A autora está publicada em vinte e oito países. Vive em Chicago com o marido e o filho.


Objetos Cortantes - 2015 Em Parte Incerta - 2013 Lugares Escuros - 2013




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