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0 Toda a Luz que Não Podemos Ver + opinião


Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, o encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris. Quando as tropas de Hitler ocupam a França, pai e filha refugiam-se na cidade fortificada de Saint-Malo, levando com eles uma joia valiosíssima do museu, que carrega uma maldição.

Werner Pfenning é um órfão alemão com um fascínio por rádios, talento que não passou despercebido à temida escola militar da Juventude Hitleriana. Seguindo o exército alemão por uma Europa em guerra, Werner chega a Saint-Malo na véspera do Dia D, onde, inevitavelmente, o seu destino se cruza com o de Marie-Laure, numa comovente combinação de amizade, inocência e humanidade num tempo de ódio e de trevas.




Autor: Anthony Doerr
Editor: Editorial Presença (Maio, 2015)
Género: Romance/Ficção Histórica
Páginas: 288
Original: All the Light We Cannot See (2014) [Goodreads] [wook]





opinião
     (5 em 5)

«O que a guerra fez aos sonhadores.»
.
Esta é, para mim, a melhor maneira de resumir o livro; colocando de lado a ambiguidade da guerra, já que muito do progresso é resultado directo da necessidade imposta por situações de conflito, o que, de facto, fez a guerra aos sonhadores, aos engenhosos, aos inventivos, aos visionários?

Marie-Laure e Werner Pfenning são apenas dois jovens, entre tantos outros que viriam a ser apanhados neste triste período em que a História se tornou pesadelo, que se viram privados da oportunidade de vir a ser tudo o que o seu potencial lhes permitisse ou o coração sentenciasse. Milhares de pessoas encurraladas em papéis que nunca escolheriam representar; os seus cursos de vida completamente alterados, os seus futuros lamentavelmente sabotados.

A ocupação nazi obriga Marie-Laure, uma jovem invisual francesa, e o pai, serralheiro-mor no Museu de História Natural, a abandonar Paris e procurar refúgio na casa do tio-avô Ettiène, um homem que, tendo presenciado de perto os horrores da Primeira Guerra, apresenta comportamentos excêntricos e agorafóbicos. Do outro lado do conflito, o órfão alemão Werner é recrutado como soldado raso, combatendo uma guerra mais limpa e mecânica devido à sua aptidão natural para operar rádios. O destino de ambos acaba por se cruzar, como se assim estivesse destinado. Entre eles, um valiosíssimo e amaldiçoado - para os que têm disposição para acreditar em tal - diamante de 133 quilates, conhecido como Mar de Chamas, azul como o mar, com uma cintilação vermelha no seu núcleo. Uma preciosidade procurada para ser integrada na colecção do Führermuseum.

Desde cedo, tanto Marie-Laure como Werner demonstravam inteligência e perspicácia acima da média, bem como uma extrema curiosidade sobre o que os rodeia, procurando o conhecimento de forma constante. A paixão de Marie-Laure por aprender, tateando cuidadosamente um objeto e saciando a sua curiosidade com perguntas, é notável - «tocar verdadeiramente em algo é amá-lo». E Werner, com as suas infinitas dúvidas sobre o funcionamento das coisas e habilidade para reparar aparelhos, chega a ser presenteado com a oportunidade de evoluir nos estudos.

A Segunda Guerra Mundial tem vindo a ser romanceada um sem número de vezes, sob milhentas perspetivas, recorrendo às mais diversas personagens e a imensos pontos de interesse…e, ainda assim, «Toda a Luz que Não Podemos Ver» está muito longe de ser apenas mais um.

Alteração, adaptação, auto-preservação; personagens fantásticas obrigadas a acompanhar as mudanças que as rodeiam apesar de as suas realidades serem progressivamente destruídas. Quando tanto se perdeu, que futuro resta?... Tanta luz que não chegámos a ver.



Frases Preferidas:
«Abram os olhos e vejam tudo o que conseguirem ver antes que se fechem para sempre»
«Todo o efeito tem uma causa, e todo o dilema tem uma solução.»
«não é a vida uma espécie de corrupção? Uma criança nasce e o mundo instala-se nela. Usurpando-lhe coisas, atulhando-a de coisas.»



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