Destaques

0 A Quinta dos Animais + Opinião


  À primeira vista, este livro situa-se na linhagem dos contos de Esopo, de La Fontaine e de outros que nos encantaram a infância. Tal como os seus predecessores, Orwell escreveu uma fábula, uma história personificada por animais. Mas há nesta fábula algo de inquietante. Classicamente, atribuir aos animais os defeitos e os ridículos dos humanos, se servia para censurar a sociedade, servia igualmente para nos tranquilizar, pois ficavam colocados à distância, «no tempo em que os animais falavam», os vícios de todos nós e as sua funestas consequências.
Em A Quinta dos Animais o enredo inverte-se. É a fábula merecida por uma época - a nossa época - em que são os homens e as mulheres a comporta-se como animais.

Autor: George Orwell
Editor: Antígona (2008)
Género: Ficção
Páginas: 156
Original: Animal Farm: A Fairy Story (1945) [Goodreads] [Wook]

opinião

A forma com que Orwell se serviu de um punhado de animais de quinta para representar, de modo simplista e sarcástico, a evolução da Rússia soviética só pode ser apelidada de genial.

Um livro que se explica a ele mesmo, A Quinta dos Animais conduz a uma reflexão inquietante sobre líderes políticos e subjugação ignorante… basta que substituamos cada animal por uma personagem ou grupo de personagens com relevância na revolução russa, desde o fraco e indeciso monarca Nicolau II, cujo nível de credulidade raiava a pobreza de espírito, passando pelas utópicas intenções de Trótski com base na ortodoxia marxista - a mesma que Estaline "seguia" - até ao próprio povo russo, tanto os leais ao Comunismo como os cépticos e até mesmo os que não queriam saber da revolução.

Em A Quinta dos Animais, após a Revolução, na qual ocorreu a expulsão de todos os humanos da quinta, foi instaurado de vez o Animalismo - política que disseminava o ideal de igualdade entre todos os animais e uma vida melhor para todos.

O que estes pobres iludidos - alegremente enganados - não perceberam é que se haviam limitado a trocar um tirano por outro. Assim, com a expulsão do negligente fazendeiro, sobe ao poder Napoleão, um porco traiçoeiro, cruel e corrupto que, no entanto, consegue dos seus camaradas lealdade, obediência e disciplina cegas («Não havia no seu espírito qualquer ideia de rebelião ou desobediência»).

Napoleão acaba por contrariar desavergonhadamente as regras que ele próprio criou, manipulando argumentos, inventando justificativas, falsificando deliberadamente a verdade histórica a ponto de os seus camaradas animais já não terem noção do que realmente aconteceu e não se darem conta de que não houve realmente qualquer benefício ou progresso. 

A pouco e pouco, a situação piora; os animais passam do socialismo a uma óbvia sociedade hierárquica liderada pelos porcos, na qual os restantes animais trabalham como escravos para suposto benefício dos próprios e das gerações futuras... Mas as melhorias com que foram inicialmente aliciados nunca se deram ou acabaram por ser eliminadas. A tão alardeada igualdade, não foi praticada um único dia...




✏ George Orwell (1903-1950) é autor de importantes obras de ficção e de não ficção. Em 1945, publicou O Triunfo dos Porcos / A Quinta dos Animais, até hoje a sua obra mais popular a par com 1984, uma sátira pessimista sobre a ameaça de uma tirania totalitária no futuro, publicada em 1949. Serviu na Polícia Imperial na Birmânia (agora Myanmar) e mais tarde lutou do lado dos Republicanos na Guerra Civil Espanhola. Pertenceu à Home Guard, uma importante organização de defesa do exército britânico, e trabalhou como correspondente de guerra para a BBC durante a Segunda Guerra Mundial. George Orwell morreu em 1950, em Inglaterra, vítima de tuberculose. 


 Diários - D.QUIXOTE 2014  Livros e Cigarros - Antígona 2010  A Quinta dos Animais - Antígona 2008  1984 - Antígona 2007 Homenagem à Catalunha - Antígona 2007  Recordando a Guerra Espanhola - Antígona 2006  O Caminho para Wigan Pier - Antígona 2003




Nenhum comentário:

Postar um comentário