Destaques

0 Frankenstein + Opinião

  Frankenstein conta a história de Victor Frankenstein, um jovem estudante, que a partir de corpos de seres humanos que obtinha em cemitérios e hospitais consegue dar vida a um monstro que se revolta contra a sua triste condição e persegue o seu criador até à morte.
  Frankenstein foi adaptado inúmeras vezes ao cinema, mas a mais memorável imagem do monstro foi encarnada pelo actor Boris Karloff, em 1931, fazendo ainda hoje parte da cultura popular.

Autor: Mary Shelley
Editor: BIS
Género: Clássico/Thriller
Páginas: 240
Original: Frankenstein* (1818) 
* Originalmente publicado como 'The Modern Prometheus', anonimamente.


opinião
My rating: 5 of 5 stars

'Sou mau porque sou infeliz.'
Todos temos os nossos personagens preferidos; aqueles que mais nos marcaram. No meu caso, há quatro nomes que recordo com um cuidado especial: Gregor Samsa, Heathcliff, Quasimodo e Jay Gatsby. Pode parecer, à partida, que não têm nada em comum mas não é o caso; todos foram vítimas de incompreensão - uma obtusidade que lhes surgiu de quem era mais próximo - e não souberam responder da melhor forma, corrompendo a própria existência. A estes junta-se agora um novo personagem, um que não tem nome mas é conhecido como 'o monstro de Frankenstein'.

Esta enorme falha nas minhas leituras foi-me recordada pelo 'Coração de Cão', de Mikhail Bulgakov. Ao contrário da criação de Philip Philipovich, a de Frankenstein não é totalmente defeituosa, contudo, Frankenstein ignorou que teria que olhar além da aparência física para observar a verdadeira essência e valor daquilo que criou; em vez de procurar aperfeiçoar, elaborar, rematar ou até mesmo destruir a sua obra, optou por fugir, abandoná-la à sua sorte, tentando fingir que nunca aconteceu, ignorando o seu erro.

…Mas há um problema com os erros: por muito que os tentemos ignorar costumam ser bem sucedidos em arranjar maneiras de nos atormentar mais tarde. O monstro sobrevive e persevera, começa a compreender o mundo que o rodeia e descobre como foi arquitectado e fabricado ilicitamente como mero capricho curioso de um jovem cientista sonhador que não tinha verdadeira noção sobre as possíveis consequências do seu empenho em criar vida. Pelas suas demonstrações de inteligência, capacidade de adaptação/aprendizagem e dedicação em ajudar, anonimamente, uma família pobre cujos membros ele estuda atentamente, analisando os diferentes laços que os unem, procurando educar-se sobre as suas preocupações, aprendendo que há amor…apenas não para ele, depressa percebemos que este 'monstro' não era uma completa aberração ...E pouco depois questionamo-nos sobre quem é realmente monstruoso.

Rejeitado e maltratado, o monstro nunca teve realmente hipótese, condenado pela sua má aparência bem como pelo preconceito e incompreensão que ela originou. É o exemplo perfeito de como a falta de amor tortura a mente e leva à maldade, ao redireccionamento de energias para o ódio em vez do afecto. A solidão e a dor da repulsa levam-no a virar-se contra quem o criou, a dedicar-se à destruição de tudo o que era querido para Victor Frankenstein, que o soube engendrar mas que falhou completamente na sua orientação.

Mas nem Victor nem o monstro são completamente heróis ou vilões, conseguimos compreender ambos e validar os seus sentimentos e acções. São apenas indivíduos que falharam em se compreender um ao outro, sendo a ignorância muitas vezes um perigo que leva a resoluções ainda mais imbecis.

Triste e trágico, há neste livro conteúdo para horas de dissecação. A narrativa não é muito extensa mas é muito significativa e bonita com a sua atmosfera gótica e romântica. É perceptível alguma inexperiência da parte da autora mas é completamente obliterada pela carga emocional da obra. Há enormes buracos negros nos conceitos e exposições científicas e não há tentativa de inventar uma teoria, por muito fantasiosa que fosse, que servisse de explicação à concepção artificial de vida, mas 'Frankenstein' é sobre muito mais do que isso e a falta de plausibilidade não empobrece, nem um pouco, o enredo. O monstro pode não ter sido realmente criado mas Mary Shelley assegurou-se que ele perduraria na sociedade.


Frases Preferidas
'o homem que toma a sua cidade natal pelo mundo é mil vezes mais feliz do que aquele que aspira tornar-se demasiado grande.' 

'Ai de mim, a vida é tenaz e prende-se ainda mais àqueles que a odeiam.' 

'Se não tiver afeições, o ódio e o vício andarão comigo.'  

 'Sou mau porque sou infeliz.' 


Nenhum comentário:

Postar um comentário