0 A Cor do Coração + Opinião
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4 estrelas,
Barbara Mutch
O livro revela-nos as pouco ortodoxas ligações que se vão tecendo entre os diferentes personagens. Com o rebentar da Segunda Guerra Mundial tudo muda dolorosamente naquela casa, até que uma guerra se instala no próprio país — o apartheid—, dilacerando ainda mais as já fragilizadas relações.
A Cor do Coração é, acima de tudo, um romance inteligente e desafiador, que retrata o drama e o sofrimento de duas mulheres capazes de se elevarem acima da crueldade e do preconceito em nome dos valores mais genuinamente humanos.

Editor: Editorial Presença (Junho, 2014)
Género: Romance/Ficção Histórica
Páginas: 384
Original: The Housemaid's Daughter (2010) [Goodreads] [Wook]
opinião
★ ★ ★ ★ (4 em 5)
A apreciação de outrem - se é que alguma nos deveria sequer ser admitida - deveria ter em conta A Cor do Coração e nunca a cor da pele. Infelizmente, sabemos que não foi assim no passado e, o que é ainda mais angustiante, não é assim na actualidade.
Retrocedendo até uma época vergonhosa, quando a segregação racial foi legitimada na África do Sul, a autora, Barbara Mutch, faz um óptimo trabalho a destacar a importância dos valores morais de cada indivíduo, evidenciando o elevado custo que a falta destes tem tido para a humanidade.
A trama desenrola-se enquanto acompanhamos Ada ao longo de diversas fases da sua vida, uma vida condicionada por factores externos e sobre os quais Ada não tem qualquer poder. A sua mãe, Miriam, serve na casa Cradock desde que Cathleen viajou da Irlanda para se instalar na África do Sul e Cathleen acaba por ter um enorme impacto na vida de Ada, não apenas por lhe oferecer a rara oportunidade de aprender a ler e a escrever e por, ainda que inconscientemente, lhe oferecer uma das armas essenciais na sua sobrevivência futura - a música - mas também pela relação de amizade e respeito que se desenvolve entre ambas.

Tudo isto nos chega através de Ada e é aqui que reside o único ponto negativo do livro - para mim. Ada soou-me demasiado ingénua, é certo que a sua falta de conhecimento e constante necessidade de explicações facilita a nossa integração na história e, mais tarde, nos permite os nossos próprios juízos de valor sem a interferência da opinião de Ada, mas tanta inocência faz apenas sentido enquanto ela é jovem, tornando-se frustrante com o avançar da narrativa e da idade da protagonista. Pessoalmente, preferia um relato mais consciente e inteirado sobre os acontecimentos, mentalidades e atitudes; certamente o livro iria adquirir um tom mais violento, revoltante e chocante, mas também mais real.
Gostei especialmente do tipo de comunicação que se instala entre Ada e Cathleen, através dos diários desta última; acaba por nos oferecer uma visão mais abrangente e um ponto de vista diferente. Apreciei também a ideia de que, independentemente da cor, do parentesco, da instrução ou da educação, cada indivíduo é responsável pela forma como se comporta, de acordo com a sua verdadeira essência . Verificamos isto não apenas com Cathleen e Ada mas melhor ainda com as suas descendentes, como proveniências e educações tão distintas acabam por não determinar o carácter da personagem.
Esta é uma história fantástica sobre um período terrível. Uma narrativa poderosa que se debate com o preço a pagar pela diferença de tom de pele.
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