Destaques

0 Sete Anos no Tibete - Opinião



My rating: 3 of 5 stars

Sete Anos no TibeteSete Anos no Tibete relata-nos a viagem do alpinista austríaco Heinrich Harrer após a sua fuga de um campo de prisioneiros na índia, aquando do início da Segunda Guerra Mundial.

Esta curta frase é suficiente para consolidar a perceção de que este é de facto um relato único! Escrevendo de forma bastante directa e sumarizando ao máximo uma extraordinariamente diversa exposição de factos, Harrer deixou-nos um relatório com imenso valor e interesse histórico. Desde a alimentação, cerimónias, crenças, opiniões e hábitos até à moral e política - Harrer partilha o máximo de informação e experiências que recolheu durante o tempo que viveu entre o povo tibetano. E, só por si, o facto de residir todo esse dito tempo no Tibete já foi um feito uma vez que a população do Tibete era mentalizada para hostilizar os forasteiros, isolando-se do resto do mundo e renunciando ao progresso. Apesar de ver a sua permissão de residência lhe ser negada algumas vezes, Harrer estava verdadeiramente fascinado pelo Tibete e partir não era, simplesmente, opção.

Contudo, pondo agora de lado todo o seu valor e grandeza, este livro não despertou o meu interesse como eu parti do princípio que faria. A escrita do autor é demasiado directa e eu prefiro escritas mais cuidadas e, se possível, romantizadas. Além disso, não estabeleci empatia por Harrer nem por nenhuma outra personagem do livro; talvez porque as interacções de Harrer com outras pessoas são descritas de forma bastante objectiva e, portanto, fria. Admiro, no entanto, a persistência do autor e nem imagino o quão forte este deveria ser psicologicamente para não sucumbir perante as adversidades que enfrentou aquando das suas tentativas de fuga.

A informação partilhada no livro sobre os últimos tempos de um Tibete independente acabou por ser a única coisa que manteve o meu interesse na leitura. A forma como o budismo ocupava tanto espaço na vida das pessoas, como inspirava toda a sua cultura e hábitos fascinou-me. Aceitam na plenitude o sistema feudal implementado em que homens, animais e terras pertenciam ao Dalai Lama, cujas ordens eram leis. A sua fé na reencarnação leva-os a encarar a vida, e a morte, de formas tão diferentes da nossa…

Contudo, sinto-me um bocadinho «enganada» pelo Tibete quase perfeito que Harrer tenta pintar mais para o final do livro - ele viveu todos aqueles anos no Tibete entre a nobreza e as pessoas mais ricas onde tudo era ouro e seda, lindos jardins, serões divertidos, bibliotecas recheadas…mas nem todos os tibetanos viviam nestas condições! E, num livro que se apresenta como um relato tão vívido e rigoroso, esta é para mim uma grande falha. A vida era dura para muitos tibetanos e não me parece justo que essas dificuldades tivessem sido competentemente anuladas para ressaltar a necessidade e o direito do Tibete à sua independência.

A violência com que a China comunista se impôs ao Tibete foi realmente algo atroz que resultou no muitíssimo infeliz colapso de uma cultura extraordinária e milenar mas apenas gostaria que no final o autor tivesse conservado a objectividade que fez questão de manter no resto do livro.



Nenhum comentário:

Postar um comentário