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2 As Cinquenta Sombras Mais Negras - Opinião

As Cinquenta Sombras Mais Negras

My rating: 3 of 5 stars

Só espero que os movimentos faciais façam, de facto, gastar algumas calorias…porque de tantas vezes que franzi o sobrolho, crispei os lábios ou os esgacei em sinal de desdém, ler «As Cinquentas Sombras Mais Negras» ou foi equivalente a fazer exercício ou terá sido uma desgastante fonte de rugas permanentes.

Uma vez que o tema central do livro não passa tanto pelo suposto mistério que envolve as «predileções» de Mr. Grey…já que, se assim fosse, o livro estaria arruinado no prólogo e não seriam sequer necessárias as 571 restantes páginas …é difícil definir uma linha de trajeto lógica em que os diversos (e aleatórios) acontecimentos se encaixem numa evolução congruente. Posto isto, todo o livro parece demasiado fortuito.

Gostei (e odiei) verdadeiramente o primeiro livro desta trilogia, daí o meu medo de ler este segundo - sejamos factuais, a Sra. James está ligeiramente em débito para a arte da escrita e se a história não fosse realmente interessante o livro poderia simplesmente tornar-se demasiado penoso.

E, tal como aconteceu com o primeiro livro, passei a leitura toda a odiá-lo. Primeiro porque me convenci que Anastasia tinha realmente aprendido alguma coisa e que iria agora revelar o seu verdadeiro carácter, mantendo-se firme nas suas decisões e convicções…quase me apeteceu aplaudi-la quando o deixou no final do primeiro livro…agora, imaginem a minha quebra de entusiasmo quando ela cede logo nas primeiras páginas deste 2º livro…

É, no entanto, gratificante observar ao longo do desenvolvimento da história que Ana perdeu alguma da infantilidade e da inocência que a caracterizaram anteriormente, o que acaba por tornar a leitura também menos perturbadora. Grey também mudou, está mais delicado, alegre e sereno: «o cinquenta sombras em technicolor»… Uma das partes interessantes do livro é mesmo essa: vê-los a ceder agora que os conhecemos melhor e a tentarem encontrar um meio termo que satisfaça ambas as partes…e ambas as «partes»…

A primeira parte é a mais pobre a nível de escrita, depois, ou foi uma parte do meu cérebro que adormeceu e eu entrei no compasso de E. L. James ou foi ela que lhe tomou o gosto e começou a esmerar-se...mas não muito. Os capítulos são demasiado longos, a repetição de adjetivos arrasta-se por todo o livro e o mesmo acontece com a repetição incessante das observações de Ana sobre Grey: é irritante e desnecessária. OK! Já percebemos que o homem é podre de bom e que todas as mulheres o desejam e ficam alteradas na sua presença…aliás, percebemos isso nas 5.000 vezes anteriores em que foi «dito»!

Aliás, creio que a Sra. James caiu no erro de se apaixonar, ela própria, demasiado pelo protagonista masculino. É irritante haver desculpa para TUDO o que ele faz de errado. É irritante que ele se comporte como uma besta e isso não seja sequer chamado à atenção. É irritante que, de uma forma ou de outra, acabe sempre por ficar provado que ele tinha razão. Os diálogos são pobres e demasiado diretos, alguns chegam a ser "«- Até amanhã X» «- Até amanhã Y»" ou, para variar um bocadinho, "«- Boa noite X» «- Boa noite Y»".
Além disso há frases, e eu quero pensar que uma tradução apressada poderá estar na base do problema, em que uma pessoa simplesmente estupidifica. Exemplo?! «Nessa noite, na cama, dei voltas e voltas na cama.» Ora bem, se estava na cama é óbvio que não podia andar às voltas na banheira…!

Gostei do primeiro volume porque acredito que havia algum sentido e razão de ser no que era exposto. Sentido esse que parece um bocadinho perdido neste livro. Ou será por já não ser novidade que o livro perdeu um bocadinho do seu encanto para mim.

Há, ainda assim, partes em que E. L. James consegue envolver-nos na história e pôr-nos a torcer pelas personagens mas a recorrência repetitiva a cenas eróticas banais torna-se cansativa, estando constantemente a interromper a história, e o livro acaba por se arrastar demasiado.

Resumindo, a minha reacção a este livro é um desinteressado encolher de ombros...



2 comentários:

  1. A minha dúvida é: porquê uma pontuação tão alta a um livro que claramente não gostaste?

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    1. Não tenho 3 estrelas como sendo uma «pontuação tão alta», mas se tivesse que as justificar apresentaria como base de argumento a familiaridade que desenvolvi por estes dois protagonistas ao longo do primeiro e segundo livros; algo que, como saberá, não é todo o autor que consegue fazer. Há livros que se lêem do início ao fim sem que a personagem principal nos dê sequer um beliscão de interesse.
      Segundo, porque apesar de não me agradar totalmente o seu desenvolvimento, parece-me que esta sequela é o seguimento mais lógico para a história do casal. Compreendo que houvesse necessidade de romancear ao máximo, redimindo Grey de algumas atitudes anteriores mas sem alterar drasticamente o seu carácter.
      Compreendo também que o primeiro livro foi «A» sensação, «A» novidade e muito dificilmente este superaria o seu êxito, por muito que a autora se esforçasse.
      E, aquele que julgo ser o motivo mais importante: podemos gostar ou odiar estas as personagens mas dificilmente ficaremos alheios a elas; podemos adorar ou repudiar a história mas não nos será certamente indiferente. E porque aborrecimento, irritação, repulsa, exasperação, choque, raiva, angústia, indignação,..., mesmo em pequenas doses, são sentimentos tão válidos quanto todos os outros, raramente classifico abaixo de três estrelas livros que me fizeram realmente sentir alguma coisa ;)

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