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A LENDA DO CISNE
A Lenda do Cisne, o primeiro livro publicado em Portugal da autora Jules Watson, relata-nos os acontecimentos que antecedem cronologicamente a «A Rainha Corvo». Eu, pessoalmente, gostei bastante!

Autor: Jules Watson
Editor: Bertrand Editora (2010)
Páginas: 624
Original: The Swan Maiden (2009)
Cotação: 3!
 




Opinião:
«Nas histórias dos druidas, para alcançar a luz, temos primeiro de descer por uma longa estrada de escuridão, um vale escuro. E quanto mais bonita for a alvorada que acena sobre as colinas, mais difícil o trilho para lá chegar». Esta é uma história de druidas…de mitos e lendas…de magia e superstição…irá Deirdre e Naisi encontrar a sua alvorada? Ou enveredar por uma longa estrada de escuridão sem fim, marcada pelas sombrias intenções de outros como NessaConorCinet,…! Assim que se atingem as mais escuras profundezas apenas se pode subir, «…ou assim dizem os druidas»… 

A história de Deirdre é uma história de amor coragem; uma luta entre aquilo que queremos e aquilo que estamos dispostos a ceder pelo amor e companhia de outro… 

À medida que a trama se desenvolve temos acesso ao maravilhoso folclore irlandês, seja através de músicas, histórias/mitos ou até mesmo do comportamento e acção das personagens. O fascínio da cultura celta está presente, é certo, mas não o seu espírito. Comparando com os livros de Juliet Marillier, falta neste livro de Jules Watson a energia simbólica deste povo, o seu carisma e essência apaixonante. Isso é algo que não pode ser relatado, tem que ser inspirado através de cada palavra impressa - e esta é, para mim, a maior falha de Watson. 

A introdução de praticamente todas as personagens relevantes para a trama logo no início do livro torna o começo muito atribulado confuso, mas a rica caracterização de cada uma das personagens permite-nos começar a diferenciá-las e a apreciar a sua individualidade. 

A protagonista é uma potência a ter em conta - corajosa, mordaz, selvagem, audaciosa mas inocente na sua impetuosidade. Lamentavelmente, há muito poucas cenas do quotidiano no início, mostrando a interacção entre Deirdre e Naisi. A autora perde-se apenas na descrição (bastante competente, é verdade) da componente de luxúria entre ambas as personagens.

É interessante observar a luta interior, tanto de Naisi como de Deirdre. Os irmãos de Naisi também são personagens muito bem construídas e interessantes, bastante distintos entre si. Tanto a descrição de Conor e de Cinet, os dois reis, está muito bem elaborada, cheia de detalhes deliciosamente perversos que nos leva a repudiá-los assim que entram em cena. Lamentavelmente, os pais adotivos de Deirdre não têm praticamente qualquer participação na trama e não conhecemos os seus sentimentos/opiniões sobre tudo o que se passou. Seria interessante ter acesso a esta perspectiva... e saber que Deirdre era amada por quem lhe foi mais próximo.

O ritmo do livro é bastante desencorajador - Jules começa muito bem, avançando sem perder mais tempo do que o necessário na construção do romance entre os protagonistas que, embora levem algum tempo a envolver-se, não tornam a leitura enfadonha. Contudo, a partir de determinada altura, há partes neste livro em que parece que nada acontece - a narrativa arrasta-seaborrecendo-nos com partes completamente dispensáveis que já haviam sido exploradas antes pela autora. Adoro narrativas bonitas e floreadas…mas não quando é notório que servem apenas para empatar a história! A escrita de Watson é muito bonita e harmoniosa - não havia necessidade de optar por este tipo atafulhamento. 

As cenas relacionadas com o sobrenatural são difíceis de idealizar mas muito ricas na sua construção pormenorizada, deixando sempre o conceito de algo encantadoramente misterioso. A noção de tempo é muito vaga, não temos ideia de quanto tempo passou desde que Deirdre e os irmãos fugiram de Erin, até que essa informação aparece enfiada no texto, como quem não quer a coisa.

O final é bastante forte e, apesar de cansativo, dá um outro impacto a toda a história, aprofundando-a bastante. 
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Frases Preferidas:
«Há tanto valor nas mentes como há nas espadas.»
 «O respeito deveria ser dado sem ser pedido. Um homem não faz um favor a uma mulher ao tratá-la como ele espera ser tratado.»
 «- Queria ter tempo para te beijar propriamente - murmurou ele, soando mais a si mesmo.
(...)
- Então, é sorte eu saber qual é a sensação... e nunca mais a esquecerei.»
«(...) a culpa era uma perda de tempo precioso para aqueles que amam.»
 «(...), a chuisle mo chroí. - Pulsação do meu coração.»
 «Os homens apenas podiam prender corpos, nãos os limites sem fim do pensamento e da vontade.»

Resumo:
Esta é a história de Deirdre
Uma profecia dita que esta rapariga será fonte de conflitos entre os bravos guerreiros de Ulaid; que trará a ruina do reino…Mas ao invés de a afastar de si para que a profecia nunca se possa concretizar, Conor, o rei, mantém-na bem perto, escondida na floresta onde nenhum outro a possa encontrar… até ao dia em que a poderá desposar


…Só que Deirdre não pensa assim. Quando percebe que tudo o que pode alguma vez esperar da vida é «um dia ser arrastada para Emain Macha, como uma vaca acasalada com um boi velho», Deirdre aproveita o seu acidental encontro com os filhos de Unsech - Naisin, Ardan e Ainnle - para fugir ao seu triste destino. 



Enquanto aguardam que seja provada a ilegalidade daquele matrimónio, a fúria de Conor abate-se sobre eles, atacando-os à traição. Naisi sabe que o rei não irá parar até que os três irmãos estejam mortos e que a rapariga lhe seja entregue. Não há retorno: a única opção é fugir para bem longe, onde não sejam reconhecidos e onde não possam ser descobertos; a única opção é fugir para Alba


«- O Conor irá perseguir-nos desde os rochedos do Norte até às praias do Sul. Não teremos paz nem descanso e todos os que nos derem abrigo serão chacinados. - Naisi ergueu os olhos para Ainnle. - Sabes isso.»

A convivência com Deirdre confunde Naisi, «prendendo-o entre o dever e o desejo de algo mais» e, uma vez envolvido nos seus braços, percebe que «nunca deixaria esta carne ser tocada por Conor». Cada vez mais, Deirdre, com formação de sacerdotisa, se aproxima dos sídhe, os «espíritos na natureza, guardiões indómitos dos animais e das plantas, de riachos e nascentes» e começa a explorar os seus poderes, partilhando-os também com Ardan. 

Os três passam a viver modestamente nesta terra desconhecida: mas os irmãos vivem agitados; para Naisi, nem tudo está bem, «o seu coração estava ensombrado, como se, de passagem, tivesse sido tocado por uma asa negra»; e Deirdre sente-se cada vez mais absorvida por esta força desconhecida da floresta, «poderia afundar-se na pedra e nunca acordar…dissolver-se em partículas de luz e nunca mais se lembrar da sua própria forma. O que a puxava fazia-a temer, pois poderia consumi-la». 

Assim, Naisi e Deirdre começam a afastar-se, os laços que os uniam começam a quebrar-se, «as palavras não poderiam mudar o que ambos sentiam no coração, as coisas diferentes que desejavam». 

Naisi e os irmãos começam a lutar pelo rei de Edipii, Cinet, juntando-se às suas forças para derrotar os temíveis Venicones. Mas Deirdre é descoberta e passa a ser também cobiçada por este rei, que não descansará enquanto não a puder ter para si, para reafirmar a sua virilidade e capacidade de governação. Apenas quando confrontado com isso e com o perigo que a sua vida e a dos seus irmãos correm, Naisi percebe que falhou, «lançara-se tão desesperadamente para a batalha, de espada empunhada à sua frente (…) assim, deixara a sua retaguarda completamente desprotegida, expusera as costas à lâmina, o coração ao esquecimento, porque ela estava ali e ele não a segurara perto de si»...

«Nas histórias dos druidas, para alcançar a luz, temos primeiro de descer por uma longa estrada de escuridão, um vale escuro. E quanto mais bonita for a alvorada que acena sobre as colinas, mais difícil o trilho para lá chegar». Esta é uma história de druidas…de mitos e lendas…de magia e superstição…irão Deirdre e Naisi encontrar a sua alvorada? Ou enveredar por uma longa estrada de escuridão sem fim, marcada pelas sombrias intenções de outros como Nessa, Conor, Cinet,…! Assim que se atingem as mais escuras profundezas apenas se pode subir («…ou assim dizem os druidas»)…

Outros Livros de Jules Watson:

A RAINHA CORVO


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