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1 As Cinquenta Sombras de Grey ~ de E.L. James


As Cinquenta Sombras de Grey (#1)

OPINIÃO

E aqui está! A prova escrita de que o sexo...vende!

A minha relação de amor/ódio com este livro foi tão grande que, entre atirá-lo com desdém para os pés da cama, dando a leitura diária por terminada, e transportá-lo comigo, com certa reverência, para todo o lado, acabei por lhe dar as merecidas 5 estrelas...

Começando de forma muito interessante, a própria protagonista, Anastasia Steele (Ana), relata-nos as caricatas cenas em que, normalmente sem querer, acaba por se ver envolvida. Junto com ela, começamos a intrigar-nos pelo misterioso, rico, bonito e poderoso Christian Grey...Até que somos confrontados com a sua verdadeira natureza e, bem, predilecções a pender para o excêntrico...


As minhas tentativas pessoais para gostar de Grey foram extenuantes, mesmo apesar dos seus ocasionais momentos de bom humor e escassos comportamentos carinhosos. Esta minha dificuldade não se relaciona, de todo, com a forma como Grey encara o sexo, nem tampouco pelas «técnicas» que aplica na relação sexual - Grey apresenta-se-nos como um homem adulto, decidido, que sabe muito bem do que gosta e, como tal, terá lá o seu direito de fazer o que lhe apetecer.


O meu verdadeiro problema é com Ana, mas todo o meu ressentimento acabou por se reflectir em Grey. Se E. L. James tivesse construído em Ana uma mulher igualmente forte e madura, de princípios bem definidos, por mim estaria tudo muito bem. Mas James apresenta-nos uma jovem (21 anos) e inocente (virgem) rapariga, infantilmente cómica, frágil no seu íntimo, muito insegura...e depois associa-a a este homem. E durante todo o livro fica embutida na história a sensação de uma tolinha apaixonada que é constantemente abusada por um homem bem mais maduro. O que é muito perturbador!

Talvez a minha ira seja dirigida a Grey porque ele conhecia o jogo todo antes de atrair Ana e por dar ares de grande integridade moral quando, mesmo conhecendo a inexperiência/inocência dela, prossegue na sua sedução para a arrastar para o seu mundo, «corrompendo-a».

Fiquei contente por o livro ser escrito na primeira pessoa, permitindo-nos aceder aos receios, pormenores da luxúria e aos sentimentos de Ana relativos a estas mesmas actividades, de uma forma já filtrada, caso contrário algumas partes seriam apenas relatos nojentos da vida sexual alheia. 

Não tenho qualquer problema com a preferência de Grey e, apesar de todo o escândalo desenvolvido em redor deste livro, é óbvio na sua leitura que E. L. James nem sequer foi assim tão longe nas descrições ou uso de bizarria. Considero apenas que esta actividade apenas é certa quando é realizada por completo mútuo acordo, quando ambas as partes sabem no que se estão a meter e quando ambos retiram prazer da situação... E por muito que a autora nos venha com «és uma adulta, a escolha é tua» e contratos prévios de aceitação e explanação, os episódios transmitem-nos sempre a sensação que Ana é coagida principalmente porque não sabe o que poderá acontecer ... e é mais do que óbvio que não aprecia ser espancada... mas Grey fá-lo na mesma, ameaçando-a constantemente com isso. 

O argumento e desculpa que Ana arranja inicialmente para o comportamento de Grey é dos mais ridículos que pode haver, no sentido em que ela afirma que Grey pode estar traumatizado por ter sido submisso quando era mais novo (inocente) e inexperiente ao mesmo tempo que pondera ela própria aderir à prática... Então e o mesmo não se aplicaria a ela?! Não é também inocente e inexperiente?! Não ficaria também ela traumatizada?! A incoerência deste argumento irritou-me bastante. 

A previsibilidade da história é também motivo de descontentamento; é óbvio que se a autora conseguiu publicar uma trilogia em volta disto não poderia tratar-se apenas de uma tontinha enamorada por um homem que gosta de dar palmadas às senhoras... tinha que haver algo mais profundo e desde cedo nos apercebemos que este Grey não bate todas... (no máximo, bate EM todas...)


Contudo, e penso que é aqui que este livro é forte, E. L. James envolve-nos nas cenas que descreve e na história, na atabalhoada relação entre estes dois, deixando-nos no final de cada cena mais tensa uma profunda sensação de vazio e abandono. Partilhamos a angústia de Ana quando Grey sai de cena. Sentimos como é oca esta relação e condoemo-nos de Ana com a revelação de que Grey simplesmente não tem mais para oferecer. 


E, quem se manteve acordado até aqui, já deve ter reparado que não disse praticamente nada de positivo sobre o livro...mas dei-lhe 5 estrelas... (e sim, estou lúcida ;P) 

O facto é que apesar de não simpatizar em especial com nenhuma das personagens (nem mesmo com José «o perseguidor», Kate «a borboletinha esvoaçante em redor de Elliot» ou Elliot «o bonzão cheio de estilo (que não merece sequer uma descrição de jeito no livro, portanto temos que acreditar no gosto da autora)». E apesar de achar a história original mas nada de revelador, chocante, impressionante... ler sobre a relação entre Chris (OK, se ele não gosta que lhe chamem Christian, muito menos deve gostar de Chris, mas ele que me venha cá bater...!!!) e Ana angustiou-me, fez-me rir, entristeceu-me, alegrou-me, repudiou-me, enraiveceu-me, divertiu-me, (...), e é assim que eu avalio um bom livro, não apenas pelas descrições dos cenários, caracterizações das personagens, a escrita do/a autor/a, enredo, coerência (que é tudo de média qualidade neste livro)...mas pelos sentimentos que me transmitem, das personagens, ou pelos que me fazem desenvolver por mim própria...e este livro fez isso na perfeição. 

Gosto do espírito honesto desta autora: sem reservas ou tabus. E acredito que se pusermos também o nosso pudor de lado conseguimos aceitar e apreciar esta leitura. Se nos forçarmos a continuar a lê-lo (e como eu tive que me forçar!) acho que podemos descobrir que o livro, tal como Grey, é bem mais do que aquilo que aparenta à partida. 

Frases preferidas:
«Fazem do comum, extraordinário.»
«- Possivelmente, embora haja pessoas que diriam que eu não tenho coração.
- Porque diriam isso?
- Porque me conhecem bem.»
  
Sinopse: 
«As Cinquenta Sombras de Grey é um romance obsessivo, viciante e que fica na nossa memória para sempre. Anastasia Steele é uma estudante de literatura jovem e inexperiente. Christian Grey é o temido e carismático presidente de uma poderosa corporação internacional. O destino levará Anastasia a entrevistá-lo para um jornal universitário. No ambiente sofisticado e luxuoso de um arranha-céus, ela descobre-se estranhamente atraída por aquele homem enigmático, sombrio, cuja beleza corta a respiração. Voltarão a encontrar-se dias mais tarde, por acaso ou talvez não. O implacável homem de negócios revela-se incapaz de resistir ao discreto charme da estudante. Ele quer desesperadamente possuí-la. Mas apenas se ela aceitar os bizarros termos que ele propõe... Anastasia hesita. Todo aquele poder a assusta – os aviões privados, os carros topo de gama, os guarda-costas... Mas teme ainda mais as peculiares inclinações de Grey, as suas exigências, a obsessão pelo controlo… E uma voracidade sexual que parece não conhecer quaisquer limites. Dividida entre os negros segredos que ele esconde e o seu próprio e irreprimível desejo, Anastasia vacila. Estará pronta para ceder? Para entrar finalmente no Quarto Vermelho da Dor? As Cinquenta Sombras de Grey é o primeiro volume da trilogia de E.L. James que é já o maior fenómeno literário do ano em todos os países onde foi publicada, da Austrália aos Estados Unidos, da Inglaterra à Nova Zelândia.»


Autor: E. L. James
Editora: Lua de Papel - 2012
Título Original: Fifty Shades of Grey



As Cinquenta Sombras Mais Negras (#2)

Opinião:


Só espero que os movimentos faciais façam, de facto, gastar algumas calorias…porque de tantas vezes que franzi o sobrolho, crispei os lábios ou os esgacei em sinal de desdém, ler «As Cinquentas Sombras Mais Negras» ou foi equivalente a fazer exercício ou terá sido uma desgastante fonte de rugas permanentes.

Uma vez que o tema central do livro não passa tanto pelo suposto mistério que envolve as «predileções» de Mr. Grey…já que, se assim fosse, o livro estaria arruinado no prólogo e não seriam sequer necessárias as 571 restantes páginas …é difícil definir uma linha de trajeto lógica em que os diversos (e aleatórios) acontecimentos se encaixem numa evolução congruente. Posto isto, todo o livro parece demasiado fortuito.

Gostei (e odiei) verdadeiramente o primeiro livro desta trilogia, daí o meu medo de ler este segundo - sejamos factuais, a Sra. James está ligeiramente em débito para a arte da escrita e se a história não fosse realmente interessante o livro poderia simplesmente tornar-se demasiado penoso.

E, tal como aconteceu com o primeiro livro, passei a leitura toda a odiá-lo. Primeiro porque me convenci que Anastasia tinha realmente aprendido alguma coisa e que iria agora revelar o seu verdadeiro carácter, mantendo-se firme nas suas decisões e convicções…quase me apeteceu aplaudi-la quando o deixou no final do primeiro livro…agora, imaginem a minha quebra de entusiasmo quando ela cede logo nas primeiras páginas deste 2º livro…

É, no entanto, gratificante observar ao longo do desenvolvimento da história que Ana perdeu alguma da infantilidade e da inocência que a caracterizaram anteriormente, o que acaba por tornar a leitura também menos perturbadora. Grey também mudou, está mais delicado, alegre e sereno: «o cinquenta sombras em technicolor»… Uma das partes interessantes do livro é mesmo essa: vê-los a ceder agora que os conhecemos melhor e a tentarem encontrar um meio termo que satisfaça ambas as partes…e ambas as «partes»…

A primeira parte é a mais pobre a nível de escrita, depois, ou foi uma parte do meu cérebro que adormeceu e eu entrei no compasso de E. L. James ou foi ela que lhe tomou o gosto e começou a esmerar-se...mas não muito. Os capítulos são demasiado longos, a repetição de adjetivos arrasta-se por todo o livro e o mesmo acontece com a repetição incessante das observações de Ana sobre Grey: é irritante e desnecessária. OK! Já percebemos que o homem é podre de bom e que todas as mulheres o desejam e ficam alteradas na sua presença…aliás, percebemos isso nas 5.000 vezes anteriores em que foi «dito»!

Aliás, creio que a Sra. James caiu no erro de se apaixonar, ela própria, demasiado pelo protagonista masculino. É irritante haver desculpa para TUDO o que ele faz de errado. É irritante que ele se comporte como uma besta e isso não seja sequer chamado à atenção. É irritante que, de uma forma ou de outra, acabe sempre por ficar provado que ele tinha razão. Os diálogos são pobres e demasiado diretos, alguns chegam a ser "«- Até amanhã X» «- Até amanhã Y»" ou, para variar um bocadinho, "«- Boa noite X» «- Boa noite Y»".
Além disso há frases, e eu quero pensar que uma tradução apressada poderá estar na base do problema, em que uma pessoa simplesmente estupidifica. Exemplo?! «Nessa noite, na cama, dei voltas e voltas na cama.» Ora bem, se estava na cama é óbvio que não podia andar às voltas na banheira…!

Gostei do primeiro volume porque acredito que havia algum sentido e razão de ser no que era exposto. Sentido esse que parece um bocadinho perdido neste livro. Ou será por já não ser novidade que o livro perdeu um bocadinho do seu encanto para mim.

Há, ainda assim, partes em que E. L. James consegue envolver-nos na história e pôr-nos a torcer pelas personagens mas a recorrência repetitiva a cenas eróticas banais torna-se cansativa, estando constantemente a interromper a história, e o livro acaba por se arrastar demasiado.


Sinopse:
Perseguida pelos negros segredos que atormentam Christian Grey, Anastasia Steele separa-se dele, e começa uma carreira numa prestigiada editora de Seattle.
Mas por mais que tente, Anastasia não o consegue esquecer – ele continua a dominar-lhe todos os pensamentos. E quando Christian lhe propõe reatarem a relação com um novo e diferente acordo, ela não consegue resistir. Aos poucos, uma a uma, começam a revelar-se as Cinquenta Sombras que torturam o seu autoritário e dominador amante.
Enquanto Grey se debate com os seus demónios, e revela a Anastasia um lado inesperadamente romântico, ela vê-se obrigada a tomar a mais importante decisão da sua vida.
Uma escolha que só ela pode fazer…


Autor: E. L. James
Editor: Lua de Papel (Outubro, 2012)
Páginas: 572
Original: Fifty Shades Darker (2011)


As Cinquenta Sombras Livre (#3)


Opinião:

E. L. James fez, de facto, «do comum, extraordinário».

O último livro acabou por fazer com que toda a trilogia valesse a pena e E. L. James conseguiu redimir-se do segundo livro que eu desgostei tanto mas que, compreendo agora, foi necessário para consolidar o argumento e dar complexidade e realismo ao caracter das personagens.

O fim é agradavelmente (e estranhamente) comum…Não sei se era bem disto que estava à espera, mas fiquei satisfeita… e em paz com Mr. Grey…a quem me apeteceu tanto atropelar com o 206 da Carris…e com a Mrs. Grey…a quem me apeteceu tanto abrir a caixa craniana para confirmar que não estava desabitada e que o Hannibal Lecter não tinha andado por ali a fazer das dele…

Não vejo só sexo quando recordo estes livros - acredito que foi por isso que venderam tanto e que foi isso que levou a autora a puxar tanto para essa vertente (até parece que os 3 livros têm a palavra «negócio» a piscar em luzes néon), mas fê-lo com intensidade… e quer se aprovem/gostem, ou não, as ditas práticas sexuais penso que é neste ponto que nos devemos focar na avaliação do livro: a história não é de todo forte ou original, mas o seu desenvolvimento é enérgico, envolvente e intenso.

E como disse, não é só sexo - mostra-nos que o amor pode crescer nos locais mais escuros e desenvolver-se onde não há esperança. Que tem poder para curar, para alterar perspectivas, modos de vida, prioridades… - que o amor tem a capacidade, no presente, de nos conciliar com o passado.

E, caramba, façamos sexo pelo caminho que é bom e dá saúde!

Lamento que E. L. James se tenha deslumbrado tanto com as personagens que criou e que isso manche os livros ao longo do seu desenvolvimento…e lamento também que a edição do texto não tenha sido tão assertiva como deveria, deixando a escrita muito pouco melodiosa e fluída. Mas ainda assim, pela experiência de observar o forte desenvolvimento e crescimento interior destas personagens, acredito que vale a pena dar uma hipótese à trilogia.

Eu, pelo menos, estou muito satisfeita por o ter feito!


Sinopse:

Quando a jovem e inocente Anastasia Steele encontrou pela primeira vez o impetuoso e fascinante milionário Christian Grey, começou entre eles um affair sensual que lhes mudou a vida para sempre. Assustada e intrigada pelas singulares inclinações eróticas de Grey, Anastasia exige um compromisso total na relação. Com medo de a perder, ele aceita.
Agora Anastasia e Grey têm finalmente tudo o que desejavam – o amor, a paixão, a intimidade, uma riqueza incalculável – e todo um mundo de possibilidades à sua espera. Mas ela sabe que amá-lo não será fácil, e que estarem juntos vai implicar ultrapassar barreiras que nenhum deles poderia prever. Anastasia vai ter de aprender a partilhar o estilo de vida de Grey sem sacrificar a sua identidade. E ele terá de aprender a superar o seu obsessivo impulso de tudo controlar, enquanto se debate com os demónios do seu terrível passado.
E quando tudo parece estar conjugado para que ambos consigam finalmente ultrapassar os maiores obstáculos, o destino conspira para tornar dolorosamente reais os maiores medos de Anastasia.


Autor: E. L. James
Editor: Lua de Papel (Novembro, 2012)
Original: Fifty Shades Freed (2011)


Um comentário:

  1. Por acaso gostei mais do 2º, achei que o 3º tem aquele final, demasiado comum, como refere.
    O que retiro desta trilogia
    é exactamente o que diz: "...mostra-nos que o amor pode crescer nos locais mais escuros e desenvolver-se onde não há esperança. Que tem poder para curar, para alterar perspectivas, modos de vida, prioridades… - que o amor tem a capacidade, no presente, de nos conciliar com o passado."

    Bom 2013, e boas leituras*

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